Kateryna Soroka
A origem de quase todas as crises pessoais interiores é a simples distância entre,
O que fazemos e o que gostávamos de estar a fazer.Entre o sítio onde estamos e onde gostávamos de estar.Entre o que somos e o que sabemos que seríamos capazes de Ser.
Foi para isso que a vida nos deu o livre arbítrio!Para que cada um possa fazer essa viagem interna dos medos da mente para o que a alma sabe ser possível.Vera Luz
Emoções que acompanham uma crise pessoal
A análise de todas as emoções que acompanham uma crise pessoal dá-nos pistas para sair desse estado. O tecido da resiliência é frequentemente moldado pela gestão adequada dessas realidades internas.
As emoções que acompanham uma crise pessoal podem nos paralisar.
Essa súbita e inesperada fratura do presente geralmente deixa-nos em estados para os quais nem sempre estamos preparados psicologicamente.
Dor, angústia, incerteza, medo…
Compreender o papel que essas realidades internas desempenham pode ajudar-nos a superar esses momentos de maneira mais eficaz.
Mas… como fazer isso?
Se há algo que muitos de nós sabemos é que, quando estamos envolvidos numa crise pessoal, há pouco espaço para a reflexão e para a clareza mental que nos permite tomar boas decisões.
Quando a adversidade surge, o medo cresce, e isso é normal e até esperado.
Devemos considerar que o nosso cérebro ainda é governado por instintos muito primitivos e mecanismos de defesa. Dessa maneira, quando ele percebe, intui e fica ciente de uma ameaça ou do colapso da nossa homeostase interna, aparece uma resposta muito comum: o desejo de fugir.
O medo controla tudo e mal conseguimos raciocinar com equilíbrio.
No entanto, vale a pena refletir por um momento sobre o que a própria palavra “crise” significa.
Esse termo vem do grego e tem vários significados que convergem para a mesma ideia: decisão, julgamento, resolução, discernimento…
Tudo isso, sem dúvida, nos encoraja a entender um aspecto simples:
somos obrigados a superar o medo, contorná-lo, para que nos permita tomar novas decisões e, assim, iniciar uma nova etapa.
No entanto, em primeiro lugar, é necessário entender a anatomia das crises e saber que tipo de emoções as integram.
Albert Einstein disse que
sem crise não há méritos.
Ele apontou, por sua vez, que são nesses momentos em que o melhor de alguém pode surgir, porque em toda crise, o vento é como uma carícia que pode nos encorajar.
Sem dúvida, isso parece evocativo e, embora essas ideias nos inspirem e motivem, é claro que não é fácil enfrentar aqueles momentos em que surgem instabilidade, incerteza e medo.
Por outro lado, algo que também sabemos é que
nem todas as crises são iguais.Algumas são ameaças claras ao nosso equilíbrio psicológico e/ou físico (Goldenberg, 1983).Outras vezes, são eventos repentinos que geram mudanças às quais somos obrigados a dar algum tipo de resposta (Rosenbaun e Calhoun, 1977).
O conceito de “crise” é muito complexo e abrange muitas realidades, como explicam, num estudo, os médicos Donald Coates e Katherine Eastman.
Esses estados temporários de alteração e desafio têm origens infinitas e afetam qualquer faixa etária. Além disso, algo que é apreciado em muitos casos é a convergência das mesmas realidades internas.
Estas são as 5 emoções que acompanham uma crise pessoal:
1. Medo (não estou preparado para isto, tenho medo)
O medo é essa emoção regulada por nossa amígdala cerebral. Essa sentinela emocional é responsável por induzir esse tipo de reação quando detecta algum tipo de ameaça ou evento inesperado que rompe o equilíbrio que tínhamos.
Assim, o fim de um relacionamento, a perda de um emprego, de uma amizade, de um membro da família ou algo importante que tenha ficado para trás, abrem as portas para essa emoção avassaladora, que é o medo.
2. Raiva (por que isto está a acontecer comigo?)
Às vezes, mais do que pura raiva, surge a indignação e a perplexidade. A pessoa que está a passar por uma crise pergunta constantemente “porquê eu?”. Na verdade, o surgimento dessa emoção é um processo natural. É comum vivenciar isto com um pouco de raiva. Nós nos recusamos a aceitar a situação e até nos sentimos incompreendidos.
Pouco a pouco, a aceitação acaba por chegar, mas, primeiro, percorreremos esse caminho habitado pelas chamas da raiva.
3. Resistência à mudança (sinto-me impotente, não posso fazer nada)
Outra das emoções que acompanham uma crise pessoal no seu início é a impotência. Além da raiva e da incompreensão, há a ideia de que não seremos capazes de mudar tudo o que aconteceu. Se meu parceiro me deixou, o mundo acabou para mim, nunca mais serei feliz.
Se eu perdi um parente, o mundo parou e não há como voltar atrás, está tudo acabado...
Essas ideias são recorrentes nos estágios iniciais de uma crise.
Idealmente, não devemos apegar-nos a essas ideias nem tornar crónicos esses estados, e sim nos permitirmos receber ajuda para gerar mudanças, assumindo novas perspectivas.
4. Vergonha, desconforto (quero afastar-me de todos e de tudo)
Há quem tenha vergonha de se ver em certas situações.
Outros sentem apenas desconforto e rejeição em relação a tudo e todos.
É comum em todos os casos desejar um certo isolamento, querer afastar-se da realidade imediata para ficar sozinho consigo mesmo.
Praticar a introspecção e o reconhecimento pessoal são coisas positivas por um tempo limitado. Ajuda a reorganizar as ideias e iniciar o processo de aceitação.
No entanto, por sua vez, precisamos ser capazes de nos abrir emocionalmente aos outros.
5. Dor emocional (sinto-me magoado, angustiado, paralisado…)
É possível que nos digam em muitas ocasiões que a dor faz parte do curso da vida.
No entanto, quando vivenciamos a dor, percebemos que é algo injusto, inesperado e grande demais para conseguirmos aceitar tanto sofrimento.
Assim, outras emoções que acompanham uma crise pessoal são todas aquelas que compõem a dor emocional de alguém. É a tristeza, a angústia, a falta de esperança.
É como uma ferida interna que dói a todo momento e que não sabemos como aliviar…
Para além do que possamos pensar, o fato de aceitar, reconhecer e validar a existência dessa dor emocional pode nos ajudar a promover o processo correto do confrontar psicológico. Deixar que todos esses estados internos fluam pouco a pouco favorecerá o alívio do sofrimento e a busca por novas resoluções.
Para concluir,
entender todas as emoções que acompanham uma crise pessoal permitirá, sem dúvida, moldar o músculo da resiliência.
Não é um processo fácil ou rápido.
As crises não são tratadas numa semana ou um mês.
Precisamos transitar por caminhos onde a dor é inevitável.
No entanto, a cada passo, a pele fica mais dura, o coração se acalma e a mente se torna mais flexível, receptiva e criativa. Mais cedo ou mais tarde, encontraremos não apenas alívio, mas também novos caminhos e possibilidades.
Barbara Rubin Wainrib
in, Crisis Intervention and Trauma Response: Theory and Practice
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