terça-feira, 8 de dezembro de 2020
Era Urso?
Um urso hiberna na floresta e depois de meses acorda no pátio de uma fábrica que ali, no inverno, fora construída. Todos o tratam como um operário barbudo e imundo que precisa tomar banho para assumir o trabalho sem mais demora.
O que se segue é um embate feroz entre a argumentação do Urso, pautada em sua certeza de quem ele é, e todos os outros – o Vigia, o Chefe, o Gerente, o Diretor, o Vice-presidente e as respectivas todas Secretárias – que desdenham de seu engano e afirmam em coro que ele não passa de um vagabundo que mente.
O Presidente, quando por fim é acionado, do alto de sua presidência, profere tranquilamente a sentença: – Caaaaalma, meu filho. Você está muuuuuuito nervoso. Não precisa esconder nada… Sei muito bem que você não é urso. Faça a barba, tome banho, troque de roupa e vá trabalhar.
E como o Urso ainda assim insiste, para que se convença de uma vez por todas, levam-no ao Zoológico e ao Circo, lá onde vivem os ursos, lá onde se fosse urso certamente estaria.
O que lhe dizem os bichos – os ursinhos, inclusive – é que ele é um impostor, um vagabundo querendo se passar por urso! E trazem de volta o coitado para trabalhar com os operários.
Passa o tempo, passa de novo o tempo, e um dia a fábrica fecha…
Vão todos embora, mas o Urso não tem para onde voltar.
Olha para o céu e avista um bando de gansos voando para os trópicos – sabia que os gansos só voam naquela direção quando chega o inverno. Procura uma toca para se enfurnar, mas quando por fim encontra lhe vem à cabeça a imagem do Vigia, do Chefe, do Gerente, do Diretor, do Vice-presidente e do Presidente e da sua condição de humano, demasiado humano: – Eu não posso entrar na toca. Não sou um urso. Sou apenas um homem preguiçoso, que precisa tomar banho, fazer a barba e trocar de roupa.
O frio aumenta e aumenta e ele tem saudade do quentinho da fábrica…
Quando não dá mais para suportar, levanta-se, afasta a neve em redor e caminha para a toca – lá na certa haveria calor. Entra com dificuldade, deita-se lá no fundo, se espreguiça, boceja, coça a barriga, deita-se outra vez de costas, cochila, dorme e sonha… que era um Urso.
Adaptação feita por Rosaura Soligo
de Esdras do Nascimento,
adaptado do original de Frank Tashlin (Ediouro, 1994).
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