sábado, 18 de fevereiro de 2012
Posse
Posse, é :
possuir algo ou alguém, pois...
reivindicar que coisas e/ou pessoas nos pertencem,
ah!... digo eu, a forçar uma pose desprendida, mas presa ainda - e como ainda tanta gente - a esta ilusão da posse.
Recuo e ocorrem-me coisas,imagens... e como eu me ria - como ainda hoje me rio - com a perspectiva de que alguém possa pensar que, de alguma forma, eu posso ser pertença sua.
cada vez mais, vou tomando consciência de que esta nossa humanidade é, de facto, um campo fértil para equívocos.
E que a linguagem, com os seus pronomes possessivos e outros modos de pertença, nos faz crer na ilusão de sermos donos das coisas.
'meus' e 'minhas' são designações que usamos, todos nós, a toda a hora.
E que a todos nós conferem o prazer e o poder de possuir, seja coisas ou pessoas.
Mas as coisas, e disso sabemos todos, são perenes e efémeras.
O que hoje é a minha casa pode amanhã ser um mero monte de escombros - basta haver um terramoto! -, o que hoje é o meu carro pode amanhã ter outro dono, o que hoje é o meu-seja-o-que-for pode amanhã ter-se perdido, desfazido, ou até não ter sentido ser mais meu, porque tudo é passageiro e da matéria pode um dia não sobrar mais nenhum rasto para lhe contar a história ou dar-lhe um título de propriedade.
Já as pessoas - a minha mãe e o meu pai, os meus irmãos e os meus filhos, os meus amigos e amigas - são meus como?
Em que ilusão caímos todos, quando dizemos ao marido ou à mulher, à namorada ou ao namorado, 'sou só tua', 'és sempre meu'?
Ah, ao mesmo tempo é tudo tão engraçado, tudo tão sem importância quando, enfim, nos damos conta de que só nós nos pertencemos a um nível que está para além da linguagem.
E que é precisamente quando não nos pertencemos, quando deixamos de exercer o nosso poder legítimo, quando damos aso ao medo e asas a esta fantasia de que estamos separados que vem à tona a ilusão de ter e querer possuir algo ou alguém que preencha e que complete o que, por si só, já é completo e preenchido.
Tudo muito divertido, realmente, quando olhamos de frente esta nossa humanidade e reparamos que nem a ela pertencemos, nem quando ela nos agarra e nos comprime e nos limita e nos faz acreditar, em frente ao espelho, em frente aos outros, que este é o 'nosso' corpo.
Tudo um pouco baralhado, sim, dentro da minha cabeça que talvez nem seja minha, tudo tão claro e transparente, quando transpondo a matéria eu me transcendo e me sinto pertencer e possuir tudo e nada ao mesmo tempo.
Tudo parecendo o que não é e sendo aquilo que não parece, quando escrevo aquilo que sinto e me dou conta que o que sinto estará sempre para além daquilo que escrevo.
Inês de Barros Baptista
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